Tarifaço dos EUA: setor calçadista tem pior outubro em 10 anos e 1,65 mil vagas foram fechadas no Brasil, aponta Associação
04/12/2025
(Foto: Reprodução) Indústria calçadista no RS
Marco Favero/ Agencia RBS
A indústria brasileira de calçados registrou, em outubro, a maior queda de empregos para o mês em uma década. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), com base em números do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram fechadas 1,65 mil vagas no período.
O setor fechou o mês com 294,22 mil empregos diretos, retração de 0,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Pela primeira vez em 2025, o estoque total de empregos ficou abaixo do patamar de 2024, revertendo a tendência de crescimento.
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O resultado acende um alerta para os efeitos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos. A entidade estima que, se a sobretaxa não for retirada até o fim do ano, o setor pode perder até 8 mil postos de trabalho diretos em 2026.
💲 As tarifas sobre importações, anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começaram a valer no início de agosto. Com elas, o país passou a cobrar os maiores impostos médios sobre produtos estrangeiros em mais de cem anos, afetando dezenas de nações.
Tarifaço ainda atinge 22% dos exportadores
Segundo Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, a tarifa adicional traz consequências para o setor:
“Entre os estados que mais perderam postos de trabalho estão o Rio Grande do Sul e São Paulo, os dois principais exportadores de calçados para os Estados Unidos, de onde originam-se cerca de 80% dos envios àquele país”, afirma.
A economista e coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, reforça que não há substituto para o mercado norte-americano, que responde por cerca de 20% das divisas das exportações brasileiras.
"É um mercado com características bastante próprias. A maior parte do volume exportado para lá é comercializado na modalidade private label, ou seja, com a marca do cliente local. Esses produtos são diferentes aos embarcados para outros mercados", explica a economista.
Ainda assim, o setor busca diversificar destinos por meio do programa Brazilian Footwear, presente hoje em mais de 160 países.
RS lidera cortes
O Rio Grande do Sul, maior empregador do setor no Brasil, perdeu 910 vagas apenas em outubro. Nos últimos três meses, período em que a tarifa está em vigor, o estado acumulou 1,83 mil demissões, encerrando outubro com 80,63 mil empregos diretos, queda de 4,8% frente ao mesmo mês de 2024.
Já em São Paulo, foram fechadas 152 vagas no mês, quase 80% delas no polo de Franca, onde a indústria calçadista é a principal empregadora e tem nos Estados Unidos seu maior destino. O estado terminou outubro com 33,53 mil empregos, redução de 1,6% na comparação anual.
Com o cenário negativo, algumas empresas evitam cortes como podem. Frederico Wirth, da Indústria de Calçados Wirth, em Dois Irmãos, Região Metropolitana de Porto Alegre, afirma que ainda não diminuiu o quadro de funcionários, mesmo com queda nos pedidos:
"A gente tem trabalhado com os clientes americanos com algum prejuízo, aguardando para ver se o tarifaço se resolve logo", diz.
Projeções e riscos
Para 2025, a Abicalçados projeta estabilidade na produção nacional, com crescimento de até 0,2% em cenário otimista, ou queda de 1,1% no pior cenário.
As exportações podem variar entre alta de 3,1% e retração de 0,2%. Contudo, se a tarifa persistir, os números devem se aproximar das estimativas mais pessimistas.
A economista Priscila explica que, se o cenário continuar o mesmo, indústrias devem repensar seus planos para o próximo ano:
"O fato é que, com a continuidade do tarifaço em 2026, muitas empresas irão rever seus investimentos e, inclusive, os seus negócios, já que algumas fabricantes têm a produção quase totalmente enviada para os Estados Unidos".
O risco de perda de 8 mil empregos em 2026 é maior na Região Sul (51%), seguida pelo Sudeste (28%) e Nordeste (22%).
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