Saiba como material criado em pesquisa pode substituir o plástico em embalagens de alimentos
19/08/2025
(Foto: Reprodução) Material biodegradável formulado por pesquisadora da UFRGS
UFRGS/ Arquivo de pesquisa
Um novo material capaz de resistir à umidade e prolongar a vida útil dos alimentos foi desenvolvido no Laboratório de Materiais Poliméricos (Lapol), vinculado ao Núcleo de Sustentabilidade da UFRGS. O estudo aponta alternativas para reduzir o uso de plásticos convencionais, considerados um dos maiores desafios ambientais da atualidade.
A proposta surge como resposta a um problema global: a produção e descarte de polímeros de curta duração.
🔍 Polímeros são macromoléculas formadas por moléculas pequenas (monômeros), que se repetem e dão ao material resistência e flexibilidade.
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De acordo com a UFRGS, só no Brasil, apenas 24,5% desse resíduo é reciclado. O restante se acumula em aterros ou é descartado de forma incorreta, contribuindo para a poluição de solos, rios e oceanos.
O país é o quarto maior gerador de lixo plástico do mundo, aponta a universidade.
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A pesquisa
Nas primeiras etapas da pesquisa conduzida pela pesquisadora Helen Kotekewis em seu mestrado, ela identificou a indústria de embalagens como uma das principais responsáveis pelo impacto ambiental. Isso porque, apesar da produção em larga escala, os itens permanecem em uso por um período curto antes de serem descartados.
“A gente sempre ouviu que precisava preservar o meio ambiente, mas agora está tendo consequências mais graves, que a gente vê no dia a dia", diz Helen.
O setor alimentício, sozinho, responde por cerca de 20% do consumo de plásticos no país, com grande parte voltada às embalagens flexíveis.
Para enfrentar o desafio do estudo, a pesquisadora trabalhou na formulação de um filme biodegradável a partir da mistura de amido de milho (de origem natural) e álcool polivinílico (PVA), um polímero sintético.
A combinação, chamada de blenda polimérica, foi melhorada com dois aditivos naturais:
Lignina: resíduo da indústria de papel, com propriedades antioxidantes e antifúngicas;
Ácido málico: encontrado em frutas como a maçã, com efeito conservante e manutenção da transparência do material.
Depois de testar diferentes proporções e métodos de produção, a formulação considerada mais eficiente foi a que reúne 75% de amido e 25% de PVA, acrescida de lignina e ácido málico.
Os testes mostraram avanços importantes:
A lignina proporcionou redução de até 35% na absorção de umidade, além de melhorar a resistência mecânica e térmica do filme;
O ácido málico garantiu diminuição de até 30% na umidade e preservou a transparência do material, requisito importante para aplicação em embalagens comerciais;
Em conjunto, os aditivos resultaram em um material mais resistente à água, com propriedades antioxidantes e antifúngicas, sem comprometer a biodegradabilidade nem gerar riscos ambientais.
“O objetivo do trabalho é substituir isso [o plástico] por algo biodegradável. E daí não vai ter esse impacto ambiental, já que no final ele vai formar um ciclo", comenta a pesquisadora Helen.
Material biodegradável formulado por pesquisadora da UFRGS
UFRGS/ Arquivo de pesquisa
Sustentabilidade em foco
O problema é urgente: de acordo com o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil, cada brasileiro produz, em média, 382 quilos de lixo por ano. Apenas 8% do total segue para a reciclagem, sendo a maior parte desse trabalho realizada por catadores informais.
Além disso, enquanto plásticos como o PET têm maior taxa de reaproveitamento, embalagens flexíveis e multicamadas, as mais usadas para alimentos, apresentam baixa reciclabilidade, frequentemente indo parar em aterros.
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